domingo, 10 de abril de 2011

São vidas

São gente como nós. Humanos, de carne e osso.
Desde o início deste mês que vejo imensos sem abrigos, por incrível que pareça vivo num sonho autêntico, porque nunca imaginei que houvessem tantos sem abrigos condicionados num só sítio. Há um senhor em particular que me desperta a atenção. Ele não pede nada, ao contrário dos outros que por lá andam. Ele está sentado naquele canto de um edifício abandonado coberto de mantas e cartão, coberto de tralhas que recolhe no lixo mesmo que para os outros sejam coisas inúteis. Ás vezes até lhe acho piada porque tem uma revista pequena onde faz palavras cruzadas e outros jogos, contudo a vida dele é apenas essa. Nunca vai a lado nenhum deambular por aí, não! Ele está sempre ali, mesmo de noite em que a cidade do Porto está toda acordada, todos a beber e às gargalhadas...o senhor já se habituou ao barulho das pessoas durante a noite, quando passo por lá ele está todo coberto...a dormir penso eu. Mas as pessoas têm nojo dele, o que eu não condeno. Num raio de cerca de 3 ou 4 metros sente-se o mau cheiro de dejectos e afins. O homem está coberto de sujidade, bem como tudo aquilo que recolhe para o aquecer durante as longas noites. O que eu condeno são algumas instituições que apelam a muita coisa, mas apenas para parecer bem, porque o trabalho de rua é muito pouco. Se de todos os sem abrigos da baixa do Porto tivesse de escolher apenas um, eu escolhia aquele senhor. Não me questionem por motivos, mas considero-o um senhor inteligente pelo que me apercebo. É um senhor que não incomoda os trausentes a pedir esmola, quem quiser dar, dá.
Ainda ontem ou ante
ontem, o meu namorado deu uma sande, a única que tinha para ele, a um sem abrigo que arruma carros ali na zona, ver a satisfação daquele homem a comer a sande e a agradecer colocou-me lágrimas nos olhos, porque se calhar ninguém está livre de viver na rua, e antes eles também deveriam ter uma vida, uma família. A família deles agora são as pessoas que passam na rua, e isso entristece-me até porque essa família nem sempre é simpática.
As pessoas deveriam deixar de preocupar-se com o lado supérfluo da vida, deveriam esquecer os preconceitos e tudo o que os engloba, deveriam libertar a mente a fim de serem melhores pessoas.
Tenho a minha livre de estereótipos, até porque os detesto. Sei que assim consigo ajudar os outros ainda melhor e é isso que farei a minha vida toda, ajudar os outros a serem um pouco mais felizes, isso sim é que me traz alegria à vida.
É necessário que lavem o rosto desta gente, que lavem sobretudo a alma que a tristeza afogou.



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