terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Abandono

Na sequência de uma reportagem, fiquei perplexa com a realidade que me é de certa forma escondida. O abandono de idosos em hospitais ou similares, essencialmente quando estes padecem de algum problema ou doença, é algo que me revolta e que ao mesmo tempo me deixa admirada. Até porque se analisarmos, a população que é incluida na classe mais pobre passa a vida a lutar contra os problemas, não abandona nem rejeita familiares, tudo isto porque sempre viveu habituada a lidar lado a lado com problemas realmente graves. No entanto as famílias de classe média/alta quando começam a ver que um familiar necessita de cuidados diários, que implicam esforço e paciência, estes nem sequer pensam na possibilidade de ajudar alguém que outrora lhes tinha sido útil. A solução mais fácil, mesmo que implique um custo monetário elevado, é abandonar ou colocá-los num sítio (como os lares) onde estejam diariamente sem incomodar suas excelências. De vez em quando, ainda se lembram e vão visitar os familiares, mas chega a um momento em que se fartam de ir a um sítio onde colocaram a pessoa que supostamente amavam, e deixam de lá ir. Como se a pessoa que lá ficou, nunca fizera parte da vida de alguém. Não sei como é abandonar a própria mãe ou o próprio pai... Não sei, não acho possível! É algo que me custa a aceitar, de facto!
Abandonar os meus pais? Depois de me terem ensinado a lutar quando estive mal, abraçaram-me quando as palavras não chegavam, fizeram-me rir quando as lágrimas sucumbiam à tristeza, ficaram a meu lado muitas vezes faltando ao trabalho quando estive doente, ensinaram-me tudo o que hoje sei da vida. Porque razão os abandonaria? Sigo muito de perto, um familiar meu que está cada vez pior a nível motor e psiquico, mas não deixo de lá ir. Levo-o muitas vezes ao hospital, e olho para ele e apesar da sensação de que as coisas mudaram e que aquela pessoa jamais voltará a ser o que foi, eu amo-o. Nunca na vida me passava sequer pela cabeça tomar esse tipo de atitude. Nunca! Não é quando são novos que são úteis, porque ainda hoje, aprendo muito com ele, e daquilo que ele passa retiro lições que nenhum outro jovem me poderá dar! O idoso merece respeito diário.
Saberão que um dia serão idosos?
Nem todas as pessoas se dão ao luxo de pensar de forma inteligente, mas este é um raciocínio lógico.E quando lá chegarem vão suplicar para que alguém (mesmo desconhecido), vos leve pela mão, indicando um caminho melhor.
Quando chegar a altura, digam-me qual é a sensação.

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