Tenho saudades.
Tenho saudades de te poder agarrar como antes e dizer o quanto te amo. Poder responder àquela tua pergunta “Gostas mais de mim ou da tua mãe?” e eu dizia “De ti, pai. Dá cá mais cinco”.
Roubaste-me a infância a que deveria ter tido direito. Erraste de uma forma avassaladora, magoaste a pessoa que eu mais amo neste Mundo…e mesmo assim estive do teu lado.
Neste tempo em que tu e a mãe se divorciaram, tu deixaste de ser aquele pai que idolatrava, passaste a ser apenas o meu pai, enquanto a mãe passou a ser a mulher de garra e força que nunca conhecera devido ao meu enorme amor por ti.
No dia em que decidiste tentar pôr termo à vida, eu estive do teu lado.
Durante uma semana não conseguia comer, nem dormir…só as lágrimas faziam revelar o que sentia. Faltei às aulas quando mais precisava de ir, pois eram os meus últimos dias de preparação para o exame final, tu nem disso sabias. Faltei e andei em baixo porque me preocupava contigo. Passado uma semana, derrotas-me com as tuas palavras desumanas por te ter dito o que achava daquilo que tinhas feito. Foi a partir daí que me apercebi que me tinha de afastar…tinha de começar a viver aos poucos e soerguer-me, porque afinal só tenho 20 anos. Para que não ficasses completamente desamparado, continuei a trocar mensagens contigo, mas agora com um certo distanciamento…até que me pediste explicações e eu fui-te sincera. Mais uma vez, não aceitas que os outros sejam sinceros contigo para que possas mudar. Tu não mudas, e é esse o problema. O problema da tua vida inteira.
Ajudaste-me nalguns momentos mais difíceis da minha adolescência, ajudaste-me a tirar a carta de condução, e davas-me dinheiro semanalmente. Agradeço-te por isso.
Mas quando eu tiver filhos essas são coisas que farei por eles naturalmente, não lhes cobrarei por nada, nem futuramente lhes vou atirar isso à cara.
Achas que o que me deste pagava a tua ausência? Achas que era isso que anulava os teus erros do passado?
Começaste a tua mensagem assim “ Esta é a história da minha vida: ajudar quem não merece”…magoa, sabes?
Nem te respondi, porque se respondo estou a pactuar, e não o quero fazer.
Nunca voltarás a ser quem foste…e eu perdi definitivamente o meu pai. Mais uma vez sou derrotada pelas lágrimas…
Sabes, cometeste imensos erros e infelizmente continuas a fazê-los…espero apenas que sejas feliz e que dês luta à tua vida agora que estás sozinho.
Já não vou a correr para os teus braços a dizer que gosto mais de ti do que a mãe…Já não corro para ti…
Capítulo encerrado.
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